Publicado em

TECNOLOGIA AJUDA A PRESERVAR BANANEIRAS NA REGIÃO NORTE

Uma tecnologia relativamente simples e acessível desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem ajudado produtores do Norte do país a controlar a Sigatoka-negra, uma das piores doenças que afetam o cultivo de bananas na Amazônia. A aplicação localizada de fungicida nas bananeiras com auxílio de um equipamento criado pela estatal viabilizou o retorno da produção de variedades tradicionais que estavam em falta no Acre, Amazonas e Rondônia.

Pesquisadores da Embrapa elaboraram um equipamento adaptado a partir de uma seringa veterinária, mangueira de silicone ou látex e um cano com uma das pontas curvadas. O dispositivo permite colocar gotas de fungicida no local específico, a axila da segunda folha da bananeira, com uma dose recomendada, de um a dois mililitros por planta.

A técnica evita a dispersão do produto no ambiente e torna possível controlar a doença com apenas três aplicações por ciclo produtivo, que gira em torno de dez a 12 meses.

O aplicador foi criado em 2001, mas a adoção pelos agricultores começou em 2009, diz a Embrapa. A Sigatoka-negra foi identificada na região pela primeira vez em 1998.

Dispositivo permite colocar gotas de fungicida no local específico — Foto: Siglia Sousa/Embrapa

 

Além de aumentar a produtividade, a solução promoveu o retorno ao mercado de variedades tradicionais que haviam sido praticamente erradicadas com a chegada da doença, como a Prata Comum, a Maçã e o plátano Pacovan. Consumidores identificaram a falta desses produtos nos mercados regionais, ressalta a estatal.

Apesar de os métodos oficiais de levantamento da produção primária não considerarem os grupos de banana, a Embrapa afirma que os indicadores de desempenho produtivo da última década apontam para uma retomada na oferta das variedades nos três Estados.

“Os impactos foram positivos, em sua maioria, evidenciando melhorias significativas na geração de renda, possibilitando o desenvolvimento da propriedade de forma sustentável, viabilizando uma produção capaz de contribuir para o desenvolvimento das unidades familiares de produção e garantir que a população tenha acesso a um importante fruto: a banana”, explica o pesquisador Lindomar Silva.

Resistência
A agricultora Cristiana Gomes, de Presidente Figueiredo (AM), afirma que a tecnologia permitiu que ela continuasse plantando a banana Pacovan. “Com a técnica da Embrapa mudou todo o meu jeito de plantar. Antes, eu precisava plantar todo ano, por causa da doença, mas agora eu já estou com a Pacovan [plantada] desde 2018 que continua dando cacho satisfatório, cacho bonito”, relata a produtora.

Essa é uma variedade bastante procurada pela população. A produção é comercializada, principalmente, em feiras livres, supermercados, mercearias e sacolões de Manaus, Porto Velho e Rio Branco, as capitais dos três Estados.

Uma pequena quantia é destinada ao mercado institucional como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), comumente abastecidos por bananas oriundas de cultivares resistentes à doença, principalmente a Thap Maeo.

Diversificação
De acordo com a Embrapa, a renda obtida com a comercialização da banana auxilia no desenvolvimento das propriedades. Os recursos são investidos no aumento dos plantios, com a recuperação de novas áreas, ou na diversificação produtiva.

Há propriedades que iniciaram cultivos de maracujá, melancia, açaí, mandioca, hortaliças, criação de peixes e em lavouras de outras variedades de banana como: Thap Maeo, a FHIA 18 e a Caipira.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve incremento de produção e ganhos de produtividade no cultivo de banana na região. No Acre, a produção passou de 77,7 mil toneladas em 2013 para 82,8 mil toneladas em 2022. O rendimento atingiu 12,4 toneladas por hectare contra 10,6 toneladas por hectare dez anos antes.

No Amazonas, o crescimento da produção foi mais moderado, saindo de 84,7 mil toneladas em 2013 para 88,7 mil toneladas em 2022. Nesse período, o pico da produção foi em 2018 com 113,3 mil toneladas. A produtividade aumentou para 14,4 toneladas por hectare.

Em Rondônia, a produção saltou de 70,6 mil toneladas para 81,9 mil toneladas. A produtividade passou de 8,5 toneladas por hectare para 11,6 toneladas por hectare entre 2013 e 2022.

Escoamento
Parte da produção do Acre e de Rondônia é enviada para Manaus, principal mercado consumidor da região e cuja produção é insuficiente para atender à demanda. A banana é escoada por modal rodoviário entre Rio Branco e Porto Velho e via hidrovia de lá até a capital amazonense.

Esse arranjo tornou competitivos os bananicultores dos municípios de Buritis e Porto Velho (RO) e Acrelândia (AC), no fornecimento ao Estado vizinho, diz a Embrapa.

 

Repost: https://globorural.globo.com/tecnologia-e-inovacao/noticia/2025/02/tecnologia-ajuda-a-preservar-bananeiras-na-regiao-norte.ghtml